Criação artística acima dos interesses individuais?

12/03/2013 10:49

 

 
Justiça suspende estreia de peça sobre Isabella Nardoni
 
A Justiça suspendeu a estreia do espetáculo "Edifício London", que ocorreria domingo ( 03/03/13) no Satyros 1, em São Paulo. A peça se baseia no caso Isabella Nardoni, menina de cinco anos que morreu em 2008 após ser jogada do sexto andar do prédio onde moravam o pai e a madrasta.
 
A mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira entrou com uma ação pedindo o cancelamento da peça.
 
Segundo a decisão judicial, a peça faz "remissão direta ao homicídio de que sua filha foi vítima, na qual, 'em verdadeira aberração', é, inclusive, lançada uma boneca decaptada por uma janela, configurando violação à imagem de sua filha morta e efetiva agressão a sua pessoa".
 
O desembargador fixou uma multa de R$ 10 mil, caso a peça seja encenada.
 
A companhia teatral Os Satyros afirma que serão adotadas medidas para fazer valer o artigo 5º da Constituição brasileira, "que diz, de forma clara e precisa, que 'é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença'."
 
Autor da peça, Lucas Arantes diz que buscou criar uma história original apenas com referências à morte de Isabella. "A peça não se parece com o que saiu nos jornais, pois minha busca foi de criar uma mitologia universal."
 
Rodolfo García Vázquez, diretor do grupo Os Satyros, disse que não poderia se manifestar porque o processo corre em segredo de Justiça.
 
 
Esse é o lado escuro do sentimento chamado para uma profissão "criativa", seja  escrita, arte, música, ou atuação. Mesmo que o trabalho seja nobre, o processo de tentar obter sucesso pode ser corrosivo e corruptor.
O perigo de se ter a alma criativa, é que ela pode conceber o narcisismo. O narcisismo estraga até mesmo o trabalho mais bonito. Se você não tiver cuidado, você pode ter sucesso em sua arte com o custo de sua alma.
É comum ouvir pessoas dizerem que abdicaram da sua "arte" em favor de um emprego porque ela não traria o retorno financeiro necessário à sobrevivência. Mas ansiavam pelo dia em que poderiam se dedicar a ela para  finalmente se realizarem e serem felizes.
É comum. Mas se prestarmos atenção, perceberemos o egoismo por trás dessa linha de pensamento. E isso prejudica a alma.
Não houve pessoa mais altruísta que o nosso Senhor. "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir." (Marcos 10:45)
 
Se queremos ser como Ele, temos que compartilhar sua atitude de quem não vive para si mesmo, nem mesmo para seus sonhos, mas para os outros. Jesus não fez milagres, ensinou, discipulou nem evangelizou para se sentir melhor consigo mesmo, para se sentir "inteiro", ou para evitar "vender-se." Ele fez isso por obediência, e por compaixão, abnegação, e um foco centrado nos outros.
 
Partindo de uma perspectiva cristã, não basta escrever porque "eu preciso" ser escritor ou mesmo porque Deus me criou para ser um escritor. Em vez disso, escreva porque alguém precisa ler o que você tem a dizer. Deixe que a paixão pelas pessoas seja sua força motriz, o pensamento de que alguém realmente precisa ouvir isso (se for não-ficção) ou precisa sentir isso (se for ficção).
 
Não pinte porque você precisa ser um pintor, pinte porque há uma beleza que os outros estão perdendo e você quer que eles vejam.
 
Atue porque você quer transportar alguém de suas lutas diárias para outro lugar e, em seguida, colocá-los de volta suavemente em suas vidas diárias.
 Atue porque alguém precisa de inspiração, não porque você precisa do aplauso.
Tire fotos para abrir os olhos dos outros para um mundo tantas vezes perdido em nossas distrações e introspecção.
 
Se não nos treinarmos a pensar focando nos outros, mesmo em nossa vocação, nós vamos nos corromper, tornando-nos pessoas egoístas. Esse é a nossa atitude "padrão".
 
Qualquer coisa feita de forma egoísta, até mesmo atividades boas, como a arte, sexo ou maternidade, torna-se corrompida.
Isso pode parecer um detalhes, mas a personalidade muitas vezes se forja nessas distinções sutis. Se somos crentes verdadeiros, somos cristãos antes de sermos artistas. Devemos evitar o egoísmo e o narcisismo em nosso chamado e vocação em cada passo, tanto quanto evitamos a luxúria ou o materialismo ou o racismo. Cega-nos, impedindo-nos de enxergar outros.
 
Impede-nos de ser humildes.
 
 Batize sua vocação criativa com uma compaixão cristã, e você vai fazer mais do que ganhar a vida. Você vai construir uma vida que honra a Deus e ganha a aprovação de seu Pai celeste.
 
Deus não está preocupado apenas com a nossa arte;
Ele está ainda mais preocupado com o nosso coração. Ele permite que soframos até que entendamos que ainda mais importante do que ser publicado/assistido é aprender a assemelhar-se a Jesus Cristo, o homem-para-outros.
 
Qual é seu motivo para criar?
 Você está se debatendo com orgulho?
 
 
Adaptado de The Corrosive Temptation of Being A Creative por Gary Thomas